A jornalista Luka Dias, que foi agredida pelo namorado. — Foto: Fabio Rossi/Agência O Globo

Há aproximadamente um ano, conheci o Henrique por meio de amigos em comum, tomando uma cerveja, em Copacabana. Desde então, começamos a ficar e saímos juntos algumas vezes. Ele passou a dizer que eu era a 01. Mas, nesse período de tempo, a maior parte estávamos separados ou brigados.

Desde o início, ele demonstrou ser um homem muito ciumento e agressivo, pegando meu celular a toda hora para olhar minhas conversas no WhatsApp e em outras redes sociais.

Quando eu perguntava, ele dizia mexer no meu aparelho só por mexer, mas chegou a contar também que clonou meus aplicativos. Na verdade, tudo realmente começou por causa do celular. Depois de ver as mensagens, ele começava a me manipular, me ameaçar e a fazer um verdadeiro jogo mental comigo.

Ele criava coisas da cabeça dele, como um maluco, um psicopata. E me atacava: me chamava de feia, chata, gorda, burra, fedorenta. Dizia que nunca conheceu uma mulher mais estúpida que eu.

No fim do ano passado, perto do Natal, ele me agrediu fisicamente pela primeira vez. A discussão também começou por causa do celular, que ele tinha a senha e, se eu não mostrasse, dava briga. Ele me deu um soco no rosto, me deixou muito machucada e eu passei o Réveillon de olho roxo, tendo que esconder os hematomas com maquiagem. Meus amigos não gostavam dele, não tínhamos nenhuma relação familiar, mas ele continuava fazendo uma loucura mental na minha cabeça.

Durante todo o tempo em que passávamos juntos, ele entrava na minha mente de alguma forma. Apesar de ser agressivo, me contava uma história muito triste da vida e da família dele e eu acabava o desculpando, por achar que ele fazia isso por causa do sofrimento que passava. Ele dizia passar muito bullying por ser gordo e que a mãe o espancava. Hoje, depois de tudo que me aconteceu, vejo que o perdão que dei me ferrou e me levou a quase morrer. Acredito que ele realmente ia me matar!


O medo que eu tinha era tão grande que chegava em casa e trancava as três portas da minha casa.

Dias depois da primeira agressão física, ele prometeu que nunca mais ia fazer. Até que, na semana passada, começaram as torturas nos dias que, com certeza, foram os piores da minha vida. Quando me batia, dizia que a fechadura estava aberta, então eu tentava sair e ele me puxava de volta pelos cabelos. Quando eu berrava por socorro, ele me dava um mata-leão.

A minha sorte é que tenho uma resistência muito boa, corro na praia, já treinei boxe, muay thai e jiu-jítsu, e acredito que isso tenha me salvado. Fiquei sem comer, emagreci bastante. E apanhei muito, fiquei três dias internada, passei por uma cirurgia, tive que reconstruir com titânio a minha mandíbula e não consigo me olhar no espelho até agora. Minha família está muito assustada e estou fazendo acompanhamento com psiquiatra e psicólogo.

Agora, a mensagem que fica para mim e para todas as mulheres é que devemos reagir. Se conseguirmos reagir, somos realmente imbatíveis. Comecei a me relacionar com o Henrique em um momento que estava muito fragilizada, perdi meu cachorro, e acabei me deixando levar. Errei por não ter caído fora no primeiro sinal de violência e ainda após saber que ele tinha um histórico de violência com a ex-namorada dele. Se ele já bateu em uma, comigo não seria diferente.

O Globo