Mulher anda sem máscara pelas ruas — Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo.

Um vírus que não mostra sinais de desaparecimento, variantes que são hábeis em se esquivar das defesas imunológicas e ondas de infecções duas, talvez três vezes por ano — esse pode ser o futuro da Covid-19, segundo a análise de alguns cientistas.O problema central é que o coronavírus se tornou mais apto a reinfectar as pessoas. Aqueles contaminados com a primeira variante Ômicron já estão relatando segundas infecções com as versões mais recentes da cepa — BA.2 ou BA2.12.1 nos Estados Unidos, ou BA.4 e BA.5 na África do Sul.


De acordo com especialistas, essas pessoas podem ter uma terceira ou quarta infecção ainda neste ano. E alguma pequena fração pode ter sintomas que persistem por meses ou anos, uma condição conhecida como Covid longa.


— Parece provável que esse seja um padrão de longo prazo — disse Juliet Pulliam, epidemiologista da Universidade Stellenbosch, na África do Sul. — O vírus vai continuar evoluindo e, provavelmente, haverá muitas pessoas sendo contaminadas diversas vezes ao longo de suas vidas.


É difícil quantificar com que frequência as pessoas são reinfectadas, em parte porque muitas infecções agora não são relatadas. Mas Pulliam e seus colegas coletaram dados suficientes na África do Sul para dizer que a taxa é maior com a Ômicron do que com variantes anteriores.


Não é assim que deveria ser. No início da pandemia, os especialistas pensavam que a imunidade adquirida com a vacinação ou com uma infecção anterior impediria a maioria das reinfecções. Mas a variante Ômicron acabou com essas esperanças.


Variante mais aprimorada


Ao contrário das variantes anteriores, a Ômicron e suas muitas sublinhagens parecem ter evoluído para escapar parcialmente das defesas do corpo. Isso deixa todos — mesmo aqueles que foram vacinados várias vezes — vulneráveis ​​a múltiplas infecções.


— Se continuarmos lidando [com a Covid-19] como fazemos agora, a maioria das pessoas será infectada pelo menos duas vezes por ano — disse Kristian Andersen, virologista do Instituto de Pesquisa Scripps em San Diego. — Eu ficaria muito surpreso se fosse diferente.


As novas variantes não alteraram a utilidade fundamental das vacinas contra Covid. A maioria das pessoas que recebeu três ou mesmo apenas duas doses não ficará doente o suficiente para precisar de cuidados médicos ao ser contaminada pelo coronavírus. E uma dose de reforço, assim como uma infecção anterior, parece diminuir a chance de reinfecção — mas não muito.


No início da pandemia, muitos especialistas basearam suas expectativas em relação ao coronavírus na gripe, o inimigo viral mais familiar para eles. Eles previram que, como acontece com a gripe, poderia haver um grande surto a cada ano, provavelmente no outono. Então a forma de minimizar sua disseminação seria vacinar as pessoas antes de sua chegada.


Em vez disso, o coronavírus está se comportando mais como outros primos próximos, que circulam e causam resfriados durante todo o ano. Ao estudar os coronavírus do resfriado comum, “vimos pessoas com múltiplas infecções no espaço de um ano”, disse Jeffrey Shaman, epidemiologista da Universidade Columbia, em Nova York.


Se a reinfecção for a norma, o coronavírus “não será simplesmente essa coisa que aparece no inverno uma vez por ano”, disse ele, “e não será um incômodo leve em termos de morbidade e mortalidade que pode causar”.


Reinfecções com variantes anteriores, incluindo a Delta, ocorreram, mas foram relativamente infrequentes. Em setembro, porém, o ritmo de reinfecções na África do Sul pareceu aumentar e foi marcadamente alto em novembro, quando a variante Ômicron foi identificada, disse Pulliam.


A variante Ômicron era diferente o suficiente da Delta, e a Delta das versões anteriores do vírus, de modo que algumas reinfecções eram esperadas. Mas agora, a Ômicron parece estar desenvolvendo novas formas que penetram nas defesas imunológicas com relativamente poucas mudanças em seu código genético.


O Globo