Lula cumprimenta apoiadores durante viagem à Bahia: em giro pelo Nordeste, Foto: Arisson Marinho / AFP

Depois de cogitar divulgar uma carta destinada aos militares, o ex-presidente Lula mudou a estratégia e passou a pregar de forma incisiva o afastamento dos integrantes das Forças Armadas da política. Em seus últimos discursos durante viagem ao Nordeste, o petista chegou até a atacá-los.

Ainda antes de recuperar direitos políticos, em março, graças à decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), de anular as suas condenações na Lava-Jato, Lula foi aconselhado por aliados a elaborar um documento em que exaltasse os investimentos feitos por seu governo para equipar as Forças Armadas e destacasse que os militares foram tratados com respeito durante seu período no Palácio do Planalto.

A possibilidade de elaboração da carta chegou a ser considerada. Pontos que deveriam ser abordados no texto foram enviados para o ex-presidente e reunidos numa espécie de rascunho. Lula mantém conversas com três ex-ministro da Defesa de governos petistas: Nelson Jobim, Celso Amorim e Jaques Wagner. O ex-presidente do PT José Genoino, que foi assessor do Ministério da Defesa, também discute as questões militares com o ex-presidente.

Em conversas com integrantes das Forças Armadas nos últimos meses, os interlocutores de Lula ouviram uma série de restrições ao petista por parte de oficiais. Reservadamente, militares da reserva do grupo descontente com Bolsonaro disseram ao Globo que as denúncias de corrupção que ocorreram durante o seu governo são o principal empecilho para a aceitação do nome do petista. Apesar disso, se comprometem a respeitar a sua autoridade de chefe das Forças caso ele vença a eleição em 2022.

Dentro do PT, a ideia de fazer uma carta destinada aos militares enfrentava forte resistência de alguns setores. O principal argumento era que o documento legitimaria a intervenção dos integrantes das Forças Armadas na política. Havia cobranças também para que o texto, antes de ser divulgado, fosse debatido no comando partidário.

Recado a bolsonaristas

Em reunião da executiva da legenda no dia 9, Lula anunciou que não faria a carta. A partir daí, passou a propagar em entrevistas que “se tivesse carta seria para o povo brasileiro, e dentro disso estão os militares”. Também tem afirmado que “se militar quiser fazer política, deve renunciar ao cargo e tirar a farda”.

De acordo com aliados, esse é a linha com que o ex-presidente pretende tratar a questão daqui para frente.

O que é dado como certo por aliados é que, caso o ex-presidente volte ao Planalto, militares não comandarão ministérios, nem mesmo a Defesa. Lula manifestou apoio à Proposta de Emenda à Constituição em tramitação na Câmara que proíbe a nomeação de militares da ativa em cargos de confiança no governo. Não há definição no entorno do petista, por enquanto, sobre como seria feito o afastamento dos cerca de 6 mil militares que ocupam postos na administração federal.

O Globo