O presidente Jair Bolsonaro disse nesta 5ª feira (7.jan.2021) que o editor-chefe e apresentador do Jornal Nacional (TV Globo), William Bonner, é “sem-vergonha” e “o maior canalha que existe”. A declaração foi feita a apoiadores, em frente ao Palácio da Alvorada, quando o presidente falava sobre a aquisição de seringas para imunizar a população contra a covid-19.Na 4ª feira (6.jan), o Jornal Nacional apresentou uma reportagem sobre a suspensão da compra dos insumos pelo governo federal. A TV mostrou o diretor do Instituto Questão de Ciência, Paulo Almeida, dizendo que a situação mostra que o governo falhou no planejamento.

“Atenção, imprensa sem vergonha. William Bonner sem vergonha. Vai ter seringa para todo mundo. William Bonner, por que seu salário foi reduzido? Porque acabou a teta do governo. Vocês têm que criticar mesmo, quase R$ 3 bilhões por ano para a imprensa e, em grande parte, para vocês”, disse.

Procurados, a TV Globo e William Bonner não haviam comentado até a publicação desta reportagem as declarações feitas pelo presidente nesta 5ª feira (7.jan).

Durante a edição do JN, Bonner leu, na íntegra, uma fala do presidente Bolsonaro e reproduziu os trejeitos do político. Foram mais de 100 mil menções no Twitter ao nome do apresentador na noite de 4ª feira.

“Bonner, você é o maior canalha que existe, William Bonner. São canalhas. O tempo todo mentindo”, disse Bolsonaro aos apoiadores.

A TV Globo é a única emissora que não mostra mais em seus telejornais as cenas de falas de Bolsonaro que são consideradas controversas ou equivocadas. A emissora entende que, ao colocar no vídeo a imagem do presidente, acaba dando destaque indevido ao que não considera ser uma informação correta. Prefere mostrar a frase por escrito com alguém narrando.

CASO MESSER

Não é a 1ª vez que o presidente Jair Bolsonaro critica publicamente a TV Globo e William Bonner. Em agosto, o chefe do Executivo divulgou em sua conta no Twitter fotos de reportagens sobre suposto repasse do doleiro Dario Messer à família Marinho, proprietária da Rede Globo.

Bolsonaro fez os cálculos. Segundo ele, em 30 anos de repasses mensais, o valor que teria sido repassado à emissora alcançaria R$ 1,75 bilhão.

Dario Messer, o “doleiro dos doleiros”, afirmou ao MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) que fazia de 2 a 3 repasses mensais à família Marinho. Ele declarou que os valores variavam de US$ 50.000 a US$ 300 mil por remessa. A informação foi divulgada pela revista Veja em 14 de agosto de 2020.

No Jornal Nacional do mesmo dia, a família Marinho negou os supostos repasses em nota lida pelo apresentador William Bonner. Eis o que diz a nota:

“A respeito de notícias divulgadas sobre a delação de Dario Messer, vimos esclarecer que Roberto Irineu Marinho e João Roberto Marinho não têm nem nunca tiveram contas não declaradas às autoridades brasileiras no exterior. Da mesma maneira, nunca realizaram operações de câmbio não declaradas às autoridades brasileiras.”

Essa foi uma das únicas vezes em que a emissora se manifestou sobre os ataques sofridos pelo presidente.

Bolsonaro citou o caso de Messer em outras ocasiões. Em 24 de agosto de 2020, pediu explicações da família Marinho sobre o suposto repasse. Em 17 de setembro, compartilhou, no Twitter, uma reportagem da Record que apontava “esquemas bilionários” da empresa.

Poder 360