Ronaldo Costa Filho, embaixador do Brasil na ONU Foto: Carlo Allergri/Reuters

O embaixador brasileiro na ONU, Ronaldo Costa Filho, alertou para o risco de um incidente nuclear de grandes proporções devidos à guerra na Ucrânia. A declaração do diplomata foi dada em uma reunião de emergência do Conselho de Segurança das Nações Unidas, convocada após a Rússia tomar o controle da maior usina nuclear da Europa, no Sudoeste ucraniano.


Costa Filho afirmou que as consequências de ações militares próximos a usinas do tipo podem causas “consequências graves e duradouras para a saúde humana e o meio ambiente”.

Na noite da última quinta-feira, a Ucrânia afirmou que um ataque russo provocou um incêndio na usina de Zaporíjia, o que causou um grande temor de que o fogo pudesse se espalhar para os seis reatores da central e provocar um vazamento nuclear. As chamas foram extintas sem a detecção de sinais de vazamento de radiação, segundo informou a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

No Conselho de Segurança da ONU, Costa Filho disse que o mundo enfrenta “a perspectiva de incidente nuclear de dimensões significativas” por causa das ofensivas próximas à usina:


— Estou quase envergonhado de reiterar que estamos enfrentando circunstâncias terríveis e sem precedentes. Não só assistimos a uma terrível catástrofe humanitária na Ucrânia, mas também enfrentamos a perspectiva de um incidente nuclear de dimensões significativas, devido à situação na instalação nuclear de Zaporíjia.

O embaixador completou:

— Esta é mais uma razão para a comunidade internacional pedir veementemente o fim imediato e abrangente de todas as hostilidades na Ucrânia. Estamos sob a ameaça de um incidente nuclear de grandes proporções, que pode ter enormes consequências não apenas para a Ucrânia, mas para toda a Europa.

Mais uma vez, Costa Filho defendeu uma solução pacífica do conflito através do diálogo e da diplomacia. O diplomata brasileiro pediu para que todas as partes envolvidas não tomem mais medidas que possam colocar em risco a segurança da usina de Zaporíjia e as demais que há no país. A Ucrânia conta hoje com quatro usinas, que tem ao todo 15 reatores nucleares.

— O Brasil apela a todas as partes para que se abstenham de qualquer medida ou ação que possa colocar em risco a segurança do material nuclear, bem como a operação segura de todas as instalações nucleares na Ucrânia, pois tal incidente pode ter consequências graves e duradouras para a saúde humana e o meio ambiente — afirmou.

Costa Filho também fez uma crítica ao Conselho de Segurança pelo fato de o órgão ainda não ter chegado próximo a um cessar-fogo dos confrontos, mesmo após diversas reuniões feitas:

— Embora tenha expressado grande preocupação com os recentes desenvolvimentos, não podemos fechar os olhos ao papel que o Conselho deve desempenhar, mas não está desempenhando na situação atual. Foram realizadas várias reuniões nesta Câmara sobre a situação na Ucrânia. Parece que não importa quantas reuniões públicas convoquemos, um cessar-fogo e o fim das hostilidades permanecem indefinidos — afirmou, frisando: — Não se trata de um paradoxo, mas sim de uma advertência sobre o fracasso do Conselho em agir de forma construtiva na abordagem do assunto.

O Globo