21/08/2021 14h32



Fotos: reprodução/Editoria de Arte – O Globo

As operações da Polícia Federal contra articuladores dos protestos do 7 de setembro convocados por Jair Bolsonaro ensandeceram os grupos de WhatsApp e Telegram a favor do presidente nessa sexta-feira.Os mandados de busca e apreensão contra o cantor Sergio Reis, o deputado federal Otoni de Paula (PSC-RJ) e outros alvos do inquérito dos atos antidemocráticos despertaram entre bolsonaristas a cobrança por mais mobilização.

Nas redes, militantes divulgam caravanas gratuitas para os atos de São Paulo e Brasília, enquanto outros tentam caronas ou companhia para rachar o combustível e pedágios.

Uma lista divulgada em diferentes grupos elenca 102 cidades no Rio de Janeiro e São Paulo com ônibus disponíveis para os manifestantes, com destino final na Avenida Paulista, onde bolsonaristas deverão se reunir para protestar contra o Supremo Tribunal Federal.

As ações da PF foram autorizadas pelo ministro Alexandre de Moraes, que à noite se tornou alvo de um pedido de impeachment protocolado por Bolsonaro. Entre os seguidores do presidente, a decisão de Moraes foi encarada como o “limite” ultrapassado pelo STF.

Os alvos da PF são acusados de incentivarem atos criminosos e violentos contra a demoracia e as instituições no feriado. A julgar pelo tom dos grupos de WhatsApp e Telegram, é exatamente isso que deseja uma parcela dos bolsonaristas.

“Quem tiver roupa camuflada, leve. Vamos para cima, seremos o exército do presidente!”, bradou um bolsonarista. “É certo que os senadores não farão o impeachment dos ministros do STF, consequência (sic), o povo ocupará o Congresso, fazendo uma intervenção civil. Estando lá dentro, exigiremos que as Forças Armadas destituam os ministros do STF e os senadores por prevaricação! SELVA!”, afirmou outro, se referindo ao grito de guerra do Exército.

Antes de o presidente sinalizar que participaria do protesto do próximo dia 7, apoiadores já construíam a narrativa de uma “batalha final” no feriado da independência.

O discurso bélico de Bolsonaro diante do tensionamento entre os Poderes e a prisão do ex-deputado Roberto Jefferson engrossaram o caldo. Para completar, houve o vazamento de um áudio do cantor Sérgio Reis mencionando uma suposta paralisação de caminhoneiros para forçar o impeachment de ministros do STF. No áudio que viralizou, o cantor e ex-deputado federal ameaçava invadir o Supremo.

Junto com a autorização para a operação de sexta, o ministro Alexandre de Moraes proibiu o sertanejo de se aproximar da Praça dos Três Poderes no dia 7 de setembro – o que foi encarado pelos bolsonaristas como evidência de que o Brasil está sob uma “ditadura da toga”.

Ganhou força, assim, a narrativa de que o Judiciário conduz uma conspiração contra o governo.

“A última manifestação será em setembro. Eles querem tomar mesmo o poder, como disse Barroso. Depois dessa manifestação, não haverá outra. Nem se quiséssemos, seríamos impedidos. É uma convocação! Não fique com a família, lute por ela!”, defendeu um dos manifestantes.“Sérgio Reis e o Zé Trovão [Marcos Antônio Pereira Gomes, caminhoneiro alvo da PF] podem vir para São Paulo e falar com o povo em Brasília por telão”, sugeriu outro.

Em tom ainda mais sombrio, houve até quem defendesse a antecipação dos protestos, diante da decisão de Moraes.

Imagem: reprodução

“Gente: essas manifestações marcadas para 7.09 já merecem serem antecipadas. Até lá o STF já prendeu todas as lideranças e o filho do Presidente”, desabafou um apoiador de Bolsonaro.

Imagens do Congresso invadido por manifestantes, registradas em junho de 2013, foram usadas como alusão às manifestações pró-Bolsonaro no feriado de 7 de setembro

Por Johanns Eller – O Globo