Foto: (CARL DE SOUZA / AFP)

Confetes e serpentinas pelo menos duas vezes ao ano. Agora é oficial. O governador em exercício Cláudio Castro sancionou lei que inclui o carnaval fora de época em todo o estado. Com a medida, o calendário de datas oficiais do Rio de Janeiro será alterado, incluindo o mês de julho em todo ano dentro do projeto intitulado “CarnaRio – Carnaval fora de época”. No entanto, ligas de bloco se manifestaram contra a decisão tomada pelo governo em meio à pandemia de Covid-19.— É fora de proposta esse decreto, algo inoportuno. Não é hora de pensar em carnaval, não sabemos nem o início da vacinação. Estamos no ápice de uma curva de contágio, temos que respeitar as famílias. O governador não pode falar em nosso nome. Não vemos nenhuma chance de marcar carnaval em 2021, é fora de propósito. Além do mais, carnaval é genuíno, não se decreta ou se impõe — afirma Rita Fernandes, presidente da Sebastiana (Associação Independente dos Blocos de Carnaval de Rua da Zona Sul, Santa Teresa e Centro).

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Ainda de acordo com Rita, os organizadores dos blocos de rua foram pegos de surpresa, já que não foram consultados. Ela lembra que a cidade não terá fôlego para se preparar, duas vezes por ano, para se preparar para um carnaval nas dimensões do que acontece no Rio.

— O carnaval acontece naturalmente, parte dos organizadores, porque o povo se envolve e coloca seus blocos na rua. Mesmo a festa das escolas de samba precisam ser espontâneas, não pode ser imposta. O que se cria é um evento para atrair turistas, mas não será carnaval. Não vamos nos planejar para uma festa fora de época.

Segundo o texto publicado no Diário Oficial Extra da última terça-feira, a medida visa a estimular o turismo e aquecer a economia com a criação de postos de empregos e venda de produtos e serviços. A organização deverá contar com a participação das ligas, agremiações e blocos carnavalescos, e ainda da secretaria estadual de Cultura.

— Neste momento, não estamos falando sobre carnaval na rua, sobre aglomeração. Sobre fazer um evento em julho, simplesmente não é o momento de falar a respeito. Há divergências, blocos que concordam e outros que não, e não há clima para conversar sobre o assunto, no auge da segunda onda da pandemia do novo coronavírus — afirma o presidente da Liga Amigos do Zé Pereira, Rodrigo Rezende.

Liesa fará reunião sobre o decreto em ‘data oportuna’

A Liga das Escolas de Samba (Liesa) do Rio, que também é citada na lei como uma das participantes do CarnaRio, explica que, para 2021, os desfiles na Sapucaí poderão ocorrer em julho se houver recursos e condições sanitárias. Já para os anos seguintes, haverá um encontro com as escolas de samba para determinar o que é necessário para a festa. Esse encontro acontecerá em data ainda a ser definida.

Já a RioTur disse que ainda não vai se posicionar sobre o decreto.

Parlamentar destaca que lei visa à chegada de turistas

De acordo com o autor da lei, o deputado estadual Dionísio Lins (PP), a segunda quinzena do mês de julho coincide com férias escolares praticamente em todo o país, o que atrairia o interesse de turistas em desembarcar na folia nas diferentes cidades do estado. Além disso, a festa poderia entrar no calendário nacional, assim como em outros estados que já possuem carnavais fora de época como atração.

O evento ainda não tem data estabelecida para ocorrer, além de detalhes de logística de segurança e medidas sanitárias. Ainda será levantado quanto geraria de retorno em turismo para o Estado.

O novo projeto de lei não tem nada a ver com o carnaval que pode acontecer este ano em julho, devido a pandemia do Covid-19. As datas prévias já foram definidas e a ordem dos desfiles das escolas de samba. Mas o evento só irá ocorrer, como garantiu os organizadores, caso a população esteja vacinada. Ainda precisa também ser votado em Brasília um feriado apenas para o evento de julho de 2021.

Em fevereiro, mês em que habitualmente se celebra o carnaval, já foi definido que a festa não acontecerá nas seguintes cidades: Belo Horizonte, Florianópolis, São Paulo, Salvador, Recife e Rio de Janeiro.

Em nota, o Governo do Estado esclarece que a lei possibilita a realização do evento, mas que, no caso deste ano, irá seguir as recomendações das autoridades sanitárias. “A iniciativa tem como objetivo estimular o turismo no Estado, fortalecendo a economia e a geração de empregos. Além disso, a alteração da lei permite que a Secretaria de Estado de Cultura apoie o maior evento cultural do Rio, em diálogo com representantes de escolas de samba e blocos”.

O Globo